No Expresso:
Uma vez eleita presidente do PSD, Manuela Ferreira Leite remeteu-se ao silêncio. Nem uma ideia, uma só, para que ficássemos a saber ao que vinha. Já no congresso, começou com palavras de circunstância, daquelas que não adiantam nem atrasam. E o país à espera. Mas o final foi empolgante. Mais do que uma ideia, surgiu uma bomba: o Governo promove investimentos errados, que devemos travar de imediato, canalizando os recursos para acções sociais. Palmas. Abraços. Delírio. E agora?
Que a decisão sobre investimentos públicos é assunto sério, estamos todos de acordo. Que sucessivos governos, do PS e do PSD, misturaram investimentos sensatos com outros desinteressantes, também é mais ou menos consensual. Eu próprio dei aqui exemplos de escolhas más: os estádios do euro, hoje às moscas, e as famosas rotundas, de que as autarquias não prescindem. Também não gosto de algumas rodovias que estão previstas. Falta a tudo isto algo a que chamo ‘efeito multiplicador’.
Num outro plano, se compararmos o investimento nacional com o dos nossos principais parceiros, as conclusões são idênticas. Um exemplo: na última década, em termos médios, Portugal investiu 25-26% da riqueza produzida, enquanto a União Europeia não foi além de uns 19-20%. Mas, no mesmo período, em rendimento “per capita” e para uma União igual a 100, Portugal caiu de 78 para 73. É óbvia a leitura: não basta investir muito, é preciso investir bem. Nós investimos mal.
Mas vamos ao que importa: em matéria de investimentos, que política tem seguido este Governo? Respondo com o quadro anexo: o investimento global, em termos de PIB, tem vindo sistematicamente a cair e está hoje em linha com a média europeia, e o investimento público, mesmo a preços correntes, é hoje mais baixo do que em 2003, ano de recessão. Ou seja: se há críticas a fazer é no sentido de que ele investiu de menos, não de mais. As malditas contas públicas não lhe deixaram alternativa.
Já sei que o que conta é o futuro, não o passado. Mas era importante dizer isto. De qualquer modo, fui consultar o PEC 2007-11, validado por Bruxelas e que o Governo está a seguir. E o que é que encontrei? Os investimentos a incluir no orçamento deverão seguir o ritmo dos anos anteriores, crescendo menos do que o próprio PIB, porque todos os outros serão financiados com capitais comunitários e/ou parcerias público-privadas. Acho pouquíssimo. E a bomba, afinal, não passou de um tiro no pé.
Mas se tudo é assim tão simples, que investimentos são esses que tanto perturbam a actual líder do PSD? As auto-estradas? O aeroporto? A travessia sobre o Tejo? O TGV?… Desistimos de todos eles? Só de alguns? Quais? Esperei pela última entrevista à TVI. E não posso queixar-me da entrevistadora, que perguntou, perguntou, perguntou. Eis a resposta: não é nenhum em particular; são todos esses investimentos ‘astronómicos’ que o Governo quer fazer e para os quais não tem dinheiro. “Voilà”.
Juro que me custa dizer isto. Mas tem de ser. Sobre um assunto tão delicado, Manuela não disse nada. Só falou.